O retorno de Os Cientistas

13 maio

Durante muito tempo, acreditei que minha vocação era a ciência. Desde criança, gostava de brincar de pesquisadora, explorando os animais, as plantas e a natureza. Anotava tudo aquilo de interessante que observava num caderno de desenho. E com detalhes – afinal, registrava minhas impressões com todo o rigor científico (ou jornalístico?) de uma guria de 6 anos. Certo dia, ganhei da vó um microscópio e ali, a olhar o minúsculo mundo da luminosa lâmina, passei várias horas de minha infância. Na época, ela disse que não fora fácil encontrar o aparelho: “Ah! Se fosse como antes, eu o achava em qualquer esquina”. 

O saudosismo de minha vó relembra uma coleção vendida em bancas de jornais que, na década de 1970, foi a responsável pelo despertar do interesse científico em muitos dos pesquisadores de hoje. Os Cientistas foi fruto da parceria de um grupo ligado à Fundação Brasileira para o Desenvolvimento de Ensino de Ciências (Funbec) com a editora Abril. Pequenas caixas de isopor com microscópios, balanças, lunetas, pipetas, kits de química e manuais introduziam os pequenos no universo científico e nas descobertas e feitos de seus mais emblemáticos representantes, como o físico e matemático George Simon Ohm (1789-1854), o físico John Dalton (1766-1844) ou o químico Robert Boyle (1627-1691), entre outros.

Funcionárias da Divisão de Fascículos da Editora Abril, na década de 70

 Segundo Isaías Raw, do Instituto Butantã, “a ideia dos kits era fazer com que as crianças e os adolescentes pusessem a ‘mão na massa’, que descobrissem o prazer de pesquisar. Para ser cientista, precisa disso, de experiência, de deduzir e querer saber mais”.
Raw faz parte de uma equipe coordenada por Moysés Nussenzvieg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que trabalha para lançar a coleção Aventuras na Ciência, que inspira-se em Os Cientistas. O núcleo conta com o apoio de nomes importantes no meio acadêmico e científico como Mayana Zats, Myriam Krasilchik, Eliana Dessen, Beatriz Barbuy, Enrique Toma, Vanderley Bagnato.

Microscópio que acompanhava um dos fascículos da coleção: encontrado em qualquer banca

A nova coleção pretende manter o formato da antiga com libretos e instrumentos similares aos profissionais, mas também ampliar as experiências com as tecnologias recentes, como a Internet. Nussenzveig, que esteve envolvido na primeira edição, estima que o número de fascículos deva ficar entre 15 e 20. O projeto está na fase de testes, realizados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Além dos testes funcionais, estão sendo feitos treinamentos com diversos públicos: crianças, adolescentes, alunos de graduação e professores de ciência. Os resultados, afirmam os pesquisadores, têm sido animadores.

 Contudo, para que a nova versão seja lançada ainda falta vencer alguns percalços. O maior deles é, sem dúvida, o financeiro. O grupo está em contato com o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Ministério da Educação, o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e parceiros da iniciativa privada. A intenção que é Aventuras na Ciência seja acessível, sendo vendido em bancas de jornais, tal qual seu antecessor.
De qualquer forma, a notícia desperta a nostalgia daqueles que aprenderam ciência através da coleção, que longe de permanecer na teoria, instigava a experimentação e a observação. Hoje, espera-se que o relançamento proporcione aquilo que, nos idos 70, foi o grande mérito de Os Cientistas: permitir e estimular uma autonomia do conhecimento.

As fotos desse post foram retiradas de um blog bastante interessante sobre a coleção Os Cientistas e que vale a pena conferir : http://oscientistas.wordpress.com

4 Respostas to “O retorno de Os Cientistas”

  1. Carlos 13/05/2011 às 22:14 #

    Obrigado pela divulgação do blog. Torçamos para que a coleção OS CIENTISTAS seja relançada \o/

  2. Claudio Motta Junior 13/05/2011 às 22:19 #

    Ah! Tô imaginando a D. Adair pegando na sua mão e te explicando tin-tin por tin-tin de carreira cientista. Que bonitinha!
    Afinal, porque abandonaste a vida de pesquisadora para se dedicar a profissão dos curiosos difamadores de celebridades?

    • Isadora 13/05/2011 às 22:24 #

      Abandonei a pretensa carreira de cientista pois percebi que a curiosidade e a observação poderiam me servir para outro fim. Mas, sabe, às vezes eu me arrependo…rs

  3. Nicolau 20/05/2011 às 17:41 #

    Sensacional. Como te disse, tenho uma dúzia destas caixinhas ainda na casa da minha mãe. Vou recuperá-las. Quanto à nova série, 15 a 20 me parece pouco. E a grande sacada era a diferença, o mistério. Será que adicionar “novas tecnologias” como a internet vai estimular a curiosidade infantil e adolescente?

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