Durante muito tempo, acreditei que minha vocação era a ciência. Desde criança, gostava de brincar de pesquisadora, explorando os animais, as plantas e a natureza. Anotava tudo aquilo de interessante que observava num caderno de desenho. E com detalhes – afinal, registrava minhas impressões com todo o rigor científico (ou jornalístico?) de uma guria de 6 anos. Certo dia, ganhei da vó um microscópio e ali, a olhar o minúsculo mundo da luminosa lâmina, passei várias horas de minha infância. Na época, ela disse que não fora fácil encontrar o aparelho: “Ah! Se fosse como antes, eu o achava em qualquer esquina”.
O saudosismo de minha vó relembra uma coleção vendida em bancas de jornais que, na década de 1970, foi a responsável pelo despertar do interesse científico em muitos dos pesquisadores de hoje. Os Cientistas foi fruto da parceria de um grupo ligado à Fundação Brasileira para o Desenvolvimento de Ensino de Ciências (Funbec) com a editora Abril. Pequenas caixas de isopor com microscópios, balanças, lunetas, pipetas, kits de química e manuais introduziam os pequenos no universo científico e nas descobertas e feitos de seus mais emblemáticos representantes, como o físico e matemático George Simon Ohm (1789-1854), o físico John Dalton (1766-1844) ou o químico Robert Boyle (1627-1691), entre outros.
Segundo Isaías Raw, do Instituto Butantã, “a ideia dos kits era fazer com que as crianças e os adolescentes pusessem a ‘mão na massa’, que descobrissem o prazer de pesquisar. Para ser cientista, precisa disso, de experiência, de deduzir e querer saber mais”.
Raw faz parte de uma equipe coordenada por Moysés Nussenzvieg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que trabalha para lançar a coleção Aventuras na Ciência, que inspira-se em Os Cientistas. O núcleo conta com o apoio de nomes importantes no meio acadêmico e científico como Mayana Zats, Myriam Krasilchik, Eliana Dessen, Beatriz Barbuy, Enrique Toma, Vanderley Bagnato.
A nova coleção pretende manter o formato da antiga com libretos e instrumentos similares aos profissionais, mas também ampliar as experiências com as tecnologias recentes, como a Internet. Nussenzveig, que esteve envolvido na primeira edição, estima que o número de fascículos deva ficar entre 15 e 20. O projeto está na fase de testes, realizados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Além dos testes funcionais, estão sendo feitos treinamentos com diversos públicos: crianças, adolescentes, alunos de graduação e professores de ciência. Os resultados, afirmam os pesquisadores, têm sido animadores.
Contudo, para que a nova versão seja lançada ainda falta vencer alguns percalços. O maior deles é, sem dúvida, o financeiro. O grupo está em contato com o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Ministério da Educação, o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e parceiros da iniciativa privada. A intenção que é Aventuras na Ciência seja acessível, sendo vendido em bancas de jornais, tal qual seu antecessor.
De qualquer forma, a notícia desperta a nostalgia daqueles que aprenderam ciência através da coleção, que longe de permanecer na teoria, instigava a experimentação e a observação. Hoje, espera-se que o relançamento proporcione aquilo que, nos idos 70, foi o grande mérito de Os Cientistas: permitir e estimular uma autonomia do conhecimento.
As fotos desse post foram retiradas de um blog bastante interessante sobre a coleção Os Cientistas e que vale a pena conferir : http://oscientistas.wordpress.com
Obrigado pela divulgação do blog. Torçamos para que a coleção OS CIENTISTAS seja relançada \o/
Ah! Tô imaginando a D. Adair pegando na sua mão e te explicando tin-tin por tin-tin de carreira cientista. Que bonitinha!
Afinal, porque abandonaste a vida de pesquisadora para se dedicar a profissão dos curiosos difamadores de celebridades?
Abandonei a pretensa carreira de cientista pois percebi que a curiosidade e a observação poderiam me servir para outro fim. Mas, sabe, às vezes eu me arrependo…rs
Sensacional. Como te disse, tenho uma dúzia destas caixinhas ainda na casa da minha mãe. Vou recuperá-las. Quanto à nova série, 15 a 20 me parece pouco. E a grande sacada era a diferença, o mistério. Será que adicionar “novas tecnologias” como a internet vai estimular a curiosidade infantil e adolescente?